Risco verdadeiro.



Essa última nota para alguns pode ser até absurda.
Afinal, essa ameaça poderia realmente chegar aqui no Brasil?
Para quem acha engraçado ou até mesmo para os mais céticos, vou relembrar uma triste tragédia vivida por nossas gerações.


Bastaram algumas horas, depois da explosão do reator nº 4 da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, no dia 26 de abril de 1986, para tornar inabitáveis e incultiváveis durante dezenas de anos cerca de 40 mil quilômetros quadrados.

Devido ao acidente, o termo “átomo pacífico” desapareceu na nuvem negra sobre o reator nuclear número 4 – em chamas – da usina de energia nuclear Chernobyl, na antiga União Soviética. A mais significativa e abrangente catástrofe tecnológica na história da humanidade ocorreu em uma pequena cidade ucraniana às margens do rio Pripyat.

Milhões de pessoas (por várias estimativas, entre 5 e 8 milhões) ainda residem em áreas que continuarão altamente contaminadas por muitos anos ainda pela poluição radioativa de Chernobyl.

Como a meia-vida do elemento radioativo mais liberado (embora longe de ter sido o único), Césio-137 (137Cs), é um pouco mais de 30 anos, as conseqüências radiológicas (e, portanto, de saúde) desse acidente nuclear continuarão a ser sentidas nos próximos séculos.

Este evento verdadeiramente global teve seus maiores impactos nas três antigas repúblicas soviéticas vizinhas – hoje países independentes da Ucrânia, Bielo-rússia e Rússia. Os impactos, contudo, se expandiram de forma muito mais ampla.

Mais de metade do Césio-137 emitido como resultado da explosão foi carregado, pela atmosfera, a outros países europeus. Pelo menos 14 outros países na Europa (Áustria, Suécia, Finlândia, Noruega, Eslovênia, Polônia, Romênia, Hungria, Suíça, República Tcheca, Itália, Bulgária, República da Moldova e Grécia) foram contaminados por níveis de radiação acima de 1 Ci/m2 (or 37 kBq/m2) – limite usado para definir áreas como “contaminadas”.

Em níveis inferiores, mas não em quantidades radioativas substanciais desprezíveis – ligadas ao acidente de Chernobyl – foram detectadas contaminações em todo o continente europeu, da Escandinávia ao Mediterrâneo, e na Ásia. Apesar da seriedade e extensão geográfica documentada da contaminação causada pelo acidente, a totalidade de impactos em ecossistemas, saúde humana, desempenho econômico e estruturas sociais continua desconhecida.

Em todos os casos, contudo, impactos assim tendem a ser extensos e duradouros. Juntando contribuições de numerosos cientistas, pesquisadores e profissionais da saúde, incluindo muitos da Ucrânia, Bielo-rússia e Rússia, esse relatório trata de um desses aspectos, especialmente a natureza e o escopo das conseqüências para a saúde humana, a longo prazo.

O alcance de estimativas do aumento de mortalidade resultante do acidente de Chernobyl transpõe uma escala extremamente ampla, dependendo precisamente do que é levado em consideração.

Por exemplo, o relatório de 2005 da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estimou que 4 mil mortes adicionais resultariam do acidente de Chernobyl. As mais recentes estatísticas publicadas indicam que, só na Bielo-rússia, Rússia e Ucrânia, o acidente resultou em cerca de 200 mil mortes adicionais – entre os anos de 1990 e 2004.

Os dados disponíveis revelam um alcance considerável em estimativa de mortalidade adicional resultante do acidente de Chernobyl (estima-se para os próximos anos milhões de pessoas), servindo para destacar as imensas incertezas ligadas ao conhecimento de todos os impactos do desastre.

Contaminação imediata da população e de trabalhadores

Quatro grupos de população tiveram os efeitos de saúde mais severos:
1 - trabalhadores de limpeza, incluindo civis e militares designados a continuar com suas atividades de limpeza e construir a camada protetora para o reator (escudo);
2 - pessoal evacuado de regiões perigosamente contaminados num raio de 30 km ao redor da usina;
3 - residentes das regiões menos (mas ainda perigosos) contaminadas; e
4 - crianças nascidas em famílias de qualquer um dos 3 grupos acima.

Algumas das principais descobertas relacionadas ao câncer e outras doenças (não-cancerígenas) são resumidas abaixo.


Câncer
Hoje está claro que a poluição de Chernobyl causou, de fato, um aumento em larga escala em cânceres. Em particular, cânceres são notavelmente mais comuns em populações das regiões altamente contaminadas e entre os “trabalhadores” (pessoal responsável pelo combate ao fogo e construção do escudo protetor, maior exposição à radiação, civis e militares) em comparação com grupos de referência (relativamente não expostos). Nos “trabalhadores” da Bielo-rússia, por exemplo, incidências de câncer de rins, bexiga e tireóide foram todos significativamente mais altas para o período de 1993 a 2003 do que em comparação com grupo de referência.
A leucemia foi significativamente mais alta nos “trabalhadores” da Ucrânia, em adultos na
Bielo-rússia e em crianças nas áreas mais contaminadas da Rússia e Ucrânia.

Outros exemplos incluem:
· Entre 1990 e 2000, um aumento de 40% em todos os cânceres na Bielo-rússia foi documentado, com aumentos maiores (52%) na região altamente contaminada (Gomel) do que nas regiões menos contaminadas de Brest (33%) e Mogilev (32%).
· Na Rússia, a morbidade do câncer nas altamente contaminadas regiões de Kaluga e Bryansk foi maior do que em todo o resto do país. Por exemplo, em áreas altamente contaminadas da região Bryansk, a morbidade foi 2,7 vezes maior do que em territórios menos contaminados da região.
· Em áreas contaminadas da região Zhytomir da Ucrânia, o número de adultos com câncer quase
triplicou entre 1986 e 1994, de 1,34% para 3,91%.

Câncer de tireóide
O câncer de tireóide cresceu dramaticamente nos três países (como esperado), devido às grandes quantidades de iodo radioativo liberadas pela catástrofe de Chernobyl. Por exemplo, a incidência na região altamente contaminada de Bryansk, no período de 1988-1998, foi o dobro da Rússia como um todo – e o triplo que figura em 2004. Somente para a Federação Russa, Bielo-rússia e Ucrânia, estimam-se que possivelmente ultrapasse 60.000 casos adicionais.
Crianças que tinham de 0 - 4 anos, na época da exposição, foram particularmente vulneráveis a esse câncer.
Antes do acidente, a ocorrência de câncer de tireóide entre crianças e adolescentes calculou a média de 0,09 casos em cada 100.000. Depois de 1990, a freqüência de ocorrência subiu para 0,57-0,63 em cada 100.000. O pico da morbidade do câncer de tireóide – entre esses que eram crianças e adolescentes no momento da catástrofe – previsto no período de 2001-2006.
O câncer da glândula tireóide causado por Chernobyl pareceu ser extraordinariamente agressivo, com progressão rápida e antecipada para formar tumores secundários nas glândulas linfáticas e pulmões – o que piorou o prognóstico e, freqüentemente, demandou a realização de intervenções cirúrgicas múltiplas.
Dada a particularidade de períodos de longo estado latente – que pode ser associada ao câncer de tireóide –, novos casos induzidos por Chernobyl podem emergir nas próximas décadas. O monitoramento a longo prazo das populações “de risco”, incluindo aquelas que receberam doses relativamente baixas, será essencial para permitir intervenção médica oportuna e efetiva.


Leucemia
Altas taxas de leucemia aguda entre os “trabalhadores” bielo-russos foram observadas, pela primeira vez, em 1990-91. A partir de 1992, aumentos significativos na incidência de todas as formas de leucemia foram detectáveis na população adulta da Bielo-rússia como um todo. Na Ucrânia, a freqüência de cânceres sangüíneos malignos foi significativamente maior do que no período pré-catástrofe nas quatro partes mais contaminadas das regiões de Zhytomyr e Kiev, tanto durante os primeiros quatro anos quanto durante o sexto ano após a catástrofe.
Leucemia infantil na região de Tula, no período pós-Chernobyl, excedeu significativamente a média de escala da Rússia, especialmente em crianças com idade de 10-14. Em Lipetsk, os casos de leucemia aumentaram 4.5 vezes de 1989 até 1995. Alguns dados sugerem risco aumentado de leucemia até mesmo para crianças expostas ainda no útero das mães.

Outros cânceres
Um aumento no câncer de trato respiratório, em mulheres, foi observado nas áreas mais contaminadas da região de Kaluga. De 1995 em diante, excessos de cânceres de estômago, pulmão, mama, reto, colo e tireóide, medula óssea e sistema linfático também foram detectados nas áreas sudoeste dessa região. Na região de Tula, taxas extraordinariamente altas de câncer ósseo e do sistema nervoso central foram detectáveis em crianças durante o período de 1990-1994.
Nos territórios mais contaminados da Ucrânia, a incidência de câncer de mama continuou relativamente estável – e um tanto mais baixa do que nos arredores –, durante o período de 1980-1992. Contudo, de 1992 em diante, incidências de câncer de mama – nos territórios contaminados – começou a crescer. Aumentos significativos na incidência de cânceres de bexiga foram detectados nos territórios contaminados da Ucrânia, em anos recentes.

Doenças não-cancerígenas
As mudanças identificadas na incidência de doenças cancerígenas relatadas por estudos de populações expostas à radiação – surgindo do acidente de Chernobyl – são somente um aspecto da amplitude de impactos para a saúde relatadas. Somado a isso, aumentos significativos em doenças não-cancerígenas entre as populações expostas também foram relatados – ainda que a escala dada da exposição e os números dos estudos sejam poucos.
Apesar das dificuldades em deduzir as relações absolutas de causa-efeito e a relativa escassez de dados – dado o impacto internacional substancial da liberação de Chernobyl – os vários relatórios são suficientes para tornar bem claro que a morbidade e mortalidade baseada somente em mudanças projetadas e observadas em escalas de doenças cancerígenas (entre essas populações) poderiam subestimar, consideravelmente, todo o escopo e escala de impactos sobre a saúde humana.

Sistema Respiratório
A exposição dos sistemas respiratórios humanos aos materiais radioativos liberados pelo acidente de Chernobyl aconteceu através de dois caminhos. Nas fases iniciais da liberação radioativa, a formação de “partículas quentes” líquidas e sólidas (em diferentes tamanhos) – junto com radionuclídeos em forma gasosa – significou que o caminho da aspiração era o mais significativo. Subseqüentemente, a irradiação externa de material depositado foi considerada a rota mais significativa de exposição de sistema respiratório.

Entre os evacuados da zona de 30-km na Bielo-rússia, os casos de morbidade respiratória quase dobraram.
Essa morbidade representou em torno de um terço dos problemas observados nos evacuados e nesses adultos e adolescentes que continuaram residindo nas regiões contaminadas. Em crianças, os problemas respiratórios representaram quase dois terços da morbidade documentada.
Os estudos mais amplos reportados parecem ser esses dos “trabalhadores” envolvidos em fazer a segurança e limpeza do local – depois do incidente. Neste grupo, a doença pulmonar obstrutiva crônica – na forma de bronquite obstrutiva crônica e asma brônquica – foi reportada como das principais razões para mortalidade, morbidade e invalidez. Nesses casos, os estudos subseqüentes permitiram que observações compreensíveis de saúde fossem ligadas com os perfis de dose de radiação reconstruídos. Isto permitiu a progressão de problemas reportados ser documentada com algum detalhe. Este grupo fornece um exemplo relativamente raro de uma população atingida pela liberação de radiação – que foi seguida com algum detalhe.



Sistema Digestivo
Há alguma evidência de irregularidades do sistema digestivo sendo mais freqüente entre indivíduos expostos a radiação de Chernobyl. Um levantamento realizado em 1995 sugeriu que a morbidade dessas irregularidades era 1,8 vezes maior entre os evacuados bielo-russos e habitantes dos territórios contaminados do que entre a população bielorussa como um todo. Entre 1991 e 1996, o incidente reportado de úlcera péptica – na população da Bielo-rússia – aumentou em quase 10%.
Na Ucrânia existem relatórios mais amplos. Durante 1988-1999 uma duplicação de morbidade do sistema digestivo foi observada na população que ainda morava em áreas contaminadas. Problemas de sistema digestivo reportados entre evacuados adultos da cidade de Prypyat – e na zona de 30 km – foram mais comuns do que no resto da população. Os índices de morbidade do sistema digestivo entre esses moradores das zonas de controle rígido de radiação foram maiores do que para a população ucraniana em larga escala. Este foi também o caso das crianças, em quem a doença do sistema digestivo aumentou mais que o dobro entre 1988 e 1999. Entre crianças, houve uma clara tendência de relatos aumentados de patologia do órgão digestivo e descobertas similares foram feitas para crianças expostas ainda no útero. Outra vez, a incidência dobrou. As irregularidades do sistema digestivo foram reportadas como a causa mais comum de doença de saúde – em crianças morando em regiões contaminadas.

Sistema vascular de sangue
A exposição à poluição radioativa de Chernobyl foi ligada não somente a câncer no sangue (maligno) e doenças linfáticas, mas também com condições não malignas do sistema vascular – que estão propensas a ter sido mais prontamente diagnosticadas como um resultado da atenção direta nesses sistemas, relacionados com sua sensibilidade a doenças malignas.
Na Bielo-rússia, dez anos após o acidente de Chernobyl, doenças de sangue aumentaram – com um aumento maior reportado nas áreas contaminadas. O distúrbio do total de células brancas também foi reportado – dos subgrupos da população, morando nos territórios afetados por Chernobyl.
Os estudos mais extensos e holísticos parecem ter sido feitos na Ucrânia. A aterosclerose generalizada precoce e doença cardíaca coronariana se desenvolveram mais comumente nos evacuados da zona de 30 km e naqueles moradores das áreas poluídas com radionuclídeos – se comparados à população em geral.
Em um estudo internacional relativamente incomum, as condições hemorrágicas e icterícia congênita em bebês recém nascidos foram monitoradas em várias das áreas expostas à radiação de Chernobyl – na Bielo-rússia, Ucrânia e Federação Russa. Esses foram descobertos sendo 4,0 e 2,9 vezes mais comuns, respectivamente, do que nas áreas não contaminadas levantadas no estudo.

Sistemas cutâneos e músculo–esquelético
Dados específicos sobre reações do sistema músculo-esquelético e de tecido conjuntivo à exposição radioativa (resultante do acidente em Chernobyl) são relativamente raros. Isto é indiscutivelmente devido, em parte, ao fato de esses sistemas não serem considerados – por si só – criticamente vulneráveis. Não obstante, dados reportados de áreas contaminadas na Bielo-rússia e Ucrânia sugerem que complicações músculo-esquelético aumentaram notoriamente. Exames de esqueleto fetal também revelaram incorporação de 137-Cs em ossos e uma ocorrência de anormalidades maior do que a esperada.
Um estudo internacional de saúde neonatal, conduzido em vários das regiões contaminadas, sugeriu uma tendência crescente de desenvolvimento de deficiências músculo-esquelético.

Estado (status) Hormônio/endócrino
Em 1993, mais de 40% das crianças pesquisadas na região Gomel (Bielo-rússia) tiveram aumento da glândula tireóide enquanto, na Ucrânia, o dano à tireóide foi observado em 35,7% dos 3 019 adolescentes das regiões de Vinnitsk e Zhytomyr – que tinham de 6-8 anos de idade, na época do acidente.

A ocorrência de doenças no sistema endócrino – em crianças morando nas partes contaminadas por Chernobyl, em Tula (região na Rússia) – quintuplicou em 2002, comparada ao período pré-acidente. A morbidade na população adulta – morando nas regiões altamente contaminadas, sudoeste da região de Bryansk – excede a média regional em 2.6 vezes.
Parece que uma reação generalizada nos indivíduos morando em áreas contaminadas aumentou a atividade do sistema endócrino – que só se estabilizou 5-6 anos depois de sair dessas áreas. Nas áreas russas afetadas pela radioatividade de Chernobyl, disfunções generalizadas na produção e balanço de hormônios sexuais foram descritas enquanto um nível persistentemente elevado de doença endócrina auto-imune – hiroadenite autoimune, tireo-toxicose e diabetes – foi observado de 1992 em diante, nos territórios ucranianos contaminados.
De forma completa, a patologia do sistema endócrino é um impacto altamente importante e significativo nessas populações expostas à radiação de Chernobyl. Dada a importância do sistema endócrino na modulação de todo o funcionamento do corpo, não é de se surpreender que outras disfunções também tenham sido observadas.

Anormalidades de função imune
Reações imunes generalizadas
O sistema imune é um sistema modulado por função endócrina. Consequentemente, anormalidades do sistema imunológico podem ser esperadas onde o sistema endócrino é perturbado. Somado a isso, a radiação de íons pode afetar, diretamente, componentes do sistema imune.
Na Bielo-rússia, um estudo da situação (status) do sistema imune de 4 000 homens expostos a pequenas – mas duradouras – doses de radiação mostrou que exposição à radiação crônica leva à perda da habilidade (do sistema imune) de resistir ao desenvolvimento de doenças infecciosas, bem como não-infecciosas.

Na Ucrânia, as mudanças mais desfavoráveis foram observadas em crianças com altas doses de irradiação da tireóide (acima de 200 cGy), ainda no útero das mães. Entre essas crianças, 43,5% desenvolveram deficiência imune – comparada com 28,0% no grupo de controle.

Doenças infecciosas
A interferência no sistema imune pode impactar sobre a ocorrência e severidade de doenças infecciosas na população mais ampla. Algumas das estatísticas juntadas pós-Chernobyl sugerem que as populações expostas à radiação podem ser mais vulneráveis a doença.
Descobriu-se que infecções congênitas ocorreram 2,9 vezes mais do que antes do acidente em recém nascidos cujas mães vieram de regiões contaminadas pela radiação.

Anormalidades genéticas e aberrações cromossomáticas
As freqüências de aberrações cromossomáticas em áreas da Ucrânia, Bieolorússia e Rússia que foram contaminadas pelo incidente de Chernobyl são, notavelmente, maiores do que a média global.
Aberrações cromossomáticas que pensaram ser atribuídas a Chernobyl foram relatadas até na Áustria, Alemanha e Noruega.
Aumentos na freqüência de mutação de cromossomos freqüentemente correlacionaram com a incidência maior de uma variedade de doenças.
Por exemplo, maiores aberrações cromossomáticas em linfócitos foram descobertas coincidindo com níveis diagnosticados de desafio psicopatológico e imunossupressão secundária, em 88% dos “trabalhadores” pesquisados.

Sistema reprodutivo e urogenital
Durante 1988-1999, doenças do sistema urogenital mais do que duplicaram em populações ainda morando em regiões mais contaminadas da Ucrânia. Um aumento triplicado em doenças inflamatórias internas, disfunções no ciclo menstrual e tumores (benignos) de ovário foram reportados em mulheres expostas. Em outras regiões contaminadas, tanto impotência quanto infertilidade masculina foi se tornando, em relatos, mais freqüente desde o acidente. Mudanças estruturais nos tubos seminíferos e disfunção na produção de esperma foram reportadas em três quartos dos homens pesquisados – na região de Kaluga, na Rússia.
Mais de 8-10 anos depois do acidente, a ameaça de gravidez interrompida se tornou mais freqüente em evacuados da zona de 30 km e naqueles vivendo em regiões contaminadas.
Em grupos altamente expostos na Ucrânia, mais da metade das mulheres grávidas sofreram complicações durante a gravidez.
É improvável que os impactos tenham se limitado a Rússia, Bielo-rússia e Ucrânia. Pelo oeste europeu e Escandinávia (incluindo Grécia, Hungria, Polônia, Noruega, Finlândia e Alemanha), estudos identificaram exposição (ainda no útero) à radiação de Chernobyl como possível fator contribuinte em abortos espontâneos, baixo peso no nascimento e sobrevivência infantil reduzida.

Envelhecimento precoce
A idade “biológica” aparente de pessoas morando em conhecidas áreas contaminadas pela radiação (na Ucrânia) aumentou de forma desproporcional, com o passar dos anos desde o acidente – com a idade “biológica” avaliada, agora, excedendo a idade real em mais de 7-9 anos. Num estudo de 306 trabalhadores, essa discrepância foi estimada entre 5 e 11 anos. Nas regiões mais contaminadas da Bielo-rússiarússia, a idade média para morte de vítimas por ataque cardíaco foi de 8 anos mais baixa do que para a população geral.

Órgãos sensitivos
Em áreas contaminadas nos arredores de Chernobyl, disfunções dos olhos – tais como catarata (incluindo em recém nascidos) e outros problemas – foram encontrados com maior freqüência do que na vizinhança, nas regiões menos contaminadas. Ainda que os maiores riscos ocorram com as maiores exposições, não há um limiar conhecido de dose radioativa a qual abaixo o risco de catarata não aumente. De forma similar, outros problemas de visão que ocorrem naturalmente em todas as populações (em algum nível) – tais como a degradação da retina – foram relatados com maior freqüência em populações irradiadas.

Disfunções neurológicas e psicológicas
Mesmo níveis comparativamente baixos de radiação podem resultar em algum nível de dano aos sistemas nervoso central e periférico. Avaliar toda a extensão do dano neurológico resultante das liberações de Chernobyl é, portanto, uma tarefa muito difícil.
Contudo, em trabalhadores da Rússia, por exemplo, doenças neurológicas foram o segundo grupo mais comum de doenças relatadas, estimando 18% de toda a morbidade. Disfunções neurológicas e psiquiátricas – entre adultos nas regiões contaminadas pela radiação, na Bielo-rússia – também foram consideradas mais freqüentes do que o normal (31,2% comparados a 18,0%).
Aumentos nas disfunções mentais e do sistema nervoso também foram relatados em crianças de algumas áreas contaminadas da Bielo-rússia – incluindo diminuição de QI – ainda que sua relação com medidas diretas de exposição à radiação não seja sempre nítida.

Conclusão
As evidências relativas aos impactos da liberação de radiação na saúde humana, pelo acidente de Chernobyl são altamente diversas e complexas – mas de grande significado. Muitas das características do acidente e suas conseqüências – tal como a incerteza quanto ao total de quantidade liberada de radionuclídeos, distribuição desigual de radioatividade, efeitos seqüenciais e simultâneos de exposições radioisótopos múltiplos – bem como limitações no monitoramento médico, diagnóstico, previsão e tratamento de doenças fazem conjuntamente, dessa forma, a restituição de muitos padrões previamente aplicados e métodos inaplicáveis.
A avaliação completa das conseqüências à saúde humana do acidente de Chernobyl é, portanto, provável que continue uma tarefa quase impossível – de forma que sua real extensão de morbidade e mortalidade resultante poderá nunca ser totalmente avaliada.


Fonte: Chernobyl Children´s Project International e Greenpeace

Comentário
Os especialistas consideram a energia nuclear como uma tecnologia segura, com ausência de risco incontrolável. Mas existe algum tipo de tecnologia realmente segura? O que os especialistas procuram ou tenham a pretensão é controlar a caixa de Pandora (internamente reserva as surpresas desagradáveis, caso ocorra a sua ativação) e os labirintos perigosos do processo, podemos imaginar a figura mitológica grega do Minotauro (vivia em labirinto, dificilmente encontrava a saída). Queremos dominar o destino ou desafiá-lo, pretendendo construir a segurança absoluta. Por mais que haja segurança não conseguimos eliminar a incerteza. Mas quando incerteza penetra no sistema, ela reclama seus direitos e quase sempre de maneira cruel.
Veja o caso de Chernobyl dos sobreviventes da tragédia e das crianças que na época estavam nos ventres das mães que não tinham culpa de nada, com seqüelas irreparáveis mostrando ao mundo as conseqüências desse apocalipse tecnológico.

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